Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2019

Política e as Tecnologias Digitais: Uma Introdução

A partir da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, o processo de trabalho passou por importantes transformações. Três séculos depois, com o desenvolvimento e difusão das tecnologias da informação e comunicação (TICs), os computadores pessoais e as redes de comunicação globais como a Internet, a humanidade é colocada à frente de uma nova onda de transformações. E nesse cenário a informação se coloca como centro das atenções e vira sinônimo de capital e estratégia de competição. A geração e a difusão da informação e do conhecimento passam a ser consideradas como principais fontes de valor e poder no século XXI, centros das atuais mudanças paradigmáticas, tanto do ponto de vista econômico, político e social (Castells, 1999). A sociedade informacional é gerenciada, em grande medida, por diversos tipos de algoritmos, entendidos como um conjunto de instruções voltado para resolver um problema específico e bem definido, os quais oferecem os mais diversos servi

Pesquisa sobre os eleitores de Bolsonaro

             A pesquisa coordenada por Isabela Kalil [1] agrupou 16 tipos de apoiadores, eleitores e potenciais eleitores de Jair Bolsonaro, de acordo com marcadores de classe social, raça/etnia, identidade de gênero, religião, formas de engajamento e crenças. A pesquisa antropológica foi realizada a partir da experiência de levantamento de dados etnográficos nos protestos e várias manifestações que se seguiram de 2016 até o ano de 2018, na cidade de São Paulo. O primeiro levantamento de dados foi realizado no acampamento da FIESP, em São Paulo, no ano de 2016 e outras manifestações em apoio ao impeachment de Dilma Rousseff. O último levantamento foi realizado durante o primeiro turno das eleições presidenciais, em outubro de 2018. Foram consideradas diversas manifestações públicas tanto do campo progressista quanto do campo conservador na capital paulista [2] . Ao todo, foram ouvidas pouco mais de 1000 pessoas, entre 2016 e 2018. A pesquisa considerou também o acompanhamento de g

Poulantzas e a Gênese do Estado Capitalista

Poulantzas analisa a gênese do Estado capitalista, quais são suas características próprias e como ele se afasta do seu antecessor, o Estado absolutista legitimado pela vontade divina. O primeiro ponto que o autor afirma é a ausência da determinação de sujeitos enquanto agentes de produção, ou seja, o povo é erigido como o princípio de determinação do Estado enquanto massa de indivíduos e não de sujeitos, no sentido daquele que age e transforma. Neste sentido, o que realmente fundamenta o Estado capitalista não é a ação popular, mas o caráter normativo, que institui a liberdade e a igualdade enquanto parâmetros legais e não sociais. O autor entende o Estado capitalista como Estado de direito que compreende: a) uma estrutura jurídica: o direito burguês, que produz efeito de isolamento (direitos individuais que separam os indivíduos e que condiz com a lógica do sistema fabril). A superestrutura jurídica política do modo de produção capitalista teria como características o sufrágio

Bolsonarismo como movimento fascista? - Parte 1: O papel do discurso ideológico

Seria o “bolsonarismo” um movimento fascista? O que significa ser um movimento fascista? E, quais as implicações que este tipo de movimento pode trazer para a sociedade? Para tentar responder estas e outras perguntas decidi elaborar um conjunto de artigos, cada um focando em uma característica específica do que podemos chamar de “bolsonarismo” e sua possível relação com o movimento fascista. Neste primeiro artigo analisarei o “bolsonarismo” a partir do viés do discurso ideológico. Antes de mais nada é preciso ressaltar que existe um debate nas ciências políticas sobre a possibilidade ou não da aplicação do conceito “regime fascista” na contemporaneidade. Para alguns intelectuais, como Atilio Boron, não se pode caracterizar o governo de Bolsonaro de fascista, isso seria um erro anacrônico, uma má utilização do conceito tradicional de fascismo. Neste contexto, o fascismo deve ser compreendido como uma forma excepcional do Estado capitalista, com características únicas e irrepetíve

O emergir do novo: o papel da educação

Ao pensar sobre o mundo de hoje, mais especificamente o Brasil, sinto-me numa espécie de Ensaio sobre a Cegueira – Saramago que me perdoe a adaptação. Como se vivêssemos em um mundo com um grande contingente de cegos, que por não conseguirem ver, se deixam guiar por tutores, seres iluminados, possuidores da verdade, que através de seus discursos se incumbem de descrever e explicar a realidade. Neste mundo, as experiências não importam, o que vale mesmo são os discursos, as deduções lógicas. Mas não qualquer discurso, apenas os dos tutores oficiais, qualquer um que pretenda se contrapor vai ser entendido como um mentiroso, um manipulador, um perigo para a estabilidade social. Nesta sociedade, a existência do diferente, daquele ou daquilo que não se enquadra na norma pré-estabelecida é vista como uma ameaça, que precisa ser aniquilada, para o próprio bem da sociedade. Aqueles que ainda possuem uma certa visão, mesmo que, às vezes embaçada, são perseguidos, seus discursos são desa

O Papel do Discurso

Ao invés de colocar em pauta os reais problemas da educação brasileira, como as estruturas precárias, a não valorização dos docentes, a falta de estratégias de ensino mais amplas e abrangentes, capazes de combater o determinismo social, o presidente brasileiro apela para sua arma mais recorrente, a polarização. A separação entre “nós” e “eles”, entre o “certo” e o “errado”, entre os “bons” e os “maus”. A polarização é uma ferramenta útil e versátil, cabe à diversos contextos, sejam eles culturais, políticos, sociais ou econômicos e, serve muito bem ao Bolsonaro: na falta de capacidade técnica- intelectual para debater, rotula-se o outro pejorativamente, sem necessitar de maiores explicações. Neste contexto, o primado da emoção sobre a razão é essencial para a construção de uma polarização constante da população, dialética que permite ao governante legitimar suas condutas e decisões. E mais, ao rotular o debate político e social como discurso ideológico que precisa ser combat