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Postagens

A Ciência Política e o uso da metodologia das "ciências duras": uma análise do livro “Clouds, Clocks, and the Study of Politics”

  Autores: Gabriel A. Almond and Stephen J. Genco.  Publicado em: World Politics, Jul., 1977, Vol. 29, No. 4 (Jul., 1977), pp. 489-522 “ Clouds, Clocks and the Study of Politics”, escrito por Gabriel Almond e Stephen J. Genco, foi publicado em julho de 1977 no “World Politics”, periódico fundado em 1948. O artigo discute a forte tendência do campo da Ciência Política, à época, de empregar metodologias das chamadas ciências duras (as “hard sciences”) nas agendas de pesquisa da área. Para prover aportes à leitura do artigo, é válido contextualizar que Gabriel Almond é um dos precursores do conceito de Cultura Política, entendido como um novo paradigma para a compreensão dos fenômenos políticos. A Cultura Política propõe um estudo do fato político por meio de uma abordagem comportamental, de modo a destacar a importância subjetiva do indivíduo na explicação sobre as orientações e atitudes políticas. A teoria da cultura política trabalha com a forma pela qual o sistema político é inte
Postagens recentes

A luta contra a dominação cultural: aproximações entre militares e o bolsonarismo

Após o fim do regime militar e a consequente proclamação da Constituição de 1988, as forças armadas brasileiras se retraíram do campo político, buscando manter relações cordiais com os ocupantes do poder civil (Godoy, 2021; Fuccille, 2021 ). Enquanto retraídos do campo político, os militares buscaram fortalecer a visão interna sobre a ditadura, principalmente entre os jovens oficiais. O medo de uma suposta ameaça cultural ganhou corpo em 1989, quando o general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho public ou um texto afirmando que os comunistas buscariam o domínio das instituições culturais e de educação, sob a influência do pensamento do ideólogo italiano Antonio Gramsci (Maud, 2021, Penido e Rodriguese, 2020 ) . O “gramscismo” e o “marxismo cultural” passam a ser identificados como “sucessores da hermenêutica leninista no movimento comunista internacional” (Godoy, 2021, p 42 ). Na década de 90, a luta contra o domínio cultural recebeu o auxílio de grupos mantidos por oficias da

O bolsonarismo e a mobilização política de medos.

Em 2018, a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro foi permeada pela mobilização de temores históricos em relação às crises econômicas, acompanhado de uma combinação de uma alegada “ameaça comunista” e a necessidade de uma cruzada moral "antigênero”, reunindo, assim, apoio na oposição ao Partido dos Trabalhadores. A mobilização política de medos não se limitou ao contexto eleitoral, encontrando amplo espaço durante os anos de governo, destacadamente no período da pandemia de Covid-19 (Kalil et al , 2021). A mobilização de medos encontrou também espaço no campo da moral, ativando temores sobre a destruição da família tradicional, dos valores conservadores, entendidos como pilares da nação. Neste contexto, caberia aos patriotas lutarem contra o pensamento “esquerdista”, “progressista” que, através das escolas e das mídias, buscariam realiza uma “lavagem cerebral” no cidadão brasileiro, para assim instituir valores contrários aos tradicionais.   O tema da manipulação está sempre pres

Não sou cobaia: os discursos sobre a vacinação contra a Covid-19

A crítica dos bolsonaristas sobre a vacinação contra a Covid-19 perpassa o tema da liberdade, isto é, a maior parte das postagens analisadas não se colocavam contra a vacinação de modo geral, mas contra a s vacina s para combater a C ovid-19, que ainda se encontraria m em fase d e experimentação e cujos efeitos colaterais não seriam plenamente conhecidos. Nas redes sociais, apareceram discursos afirmando que as vacinas poderiam causar problemas colaterais, os quais seriam encobertos pela mídia. Além do que, haveria indícios de que a própria vacina estivesse criando as mutações do vírus da Covid-19 . Os bolsonaristas criticam aqueles que não acreditam que a imunização natural seja suficiente para combater o coronavírus, defendem que se alguém já contraiu o vírus e se curou, não precisaria tomar a vacina. Afinal, haveria relatos de médicos dizendo que fizeram exames em pacientes vacinados e verificaram que o índice de anticorpos neutralizantes eram muito baixos, o que