MICHEL FOUCAULT – MICROFÍSICA DO
PODER
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O livro Microfísica do Poder de Michel Foucault organizado por Roberto Machado (Doutor em filosofia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica e estagiário do "Collège de France", sob a orientação de Michel Foucault, entre 1973 e 1980), contém transcrições dos cursos ministrados no Collège de France, artigos, debates e várias entrevistas que auxiliam na introdução ao pensamento de Foucault.
Esta obra
explicita como os mecanismos de poder são exercidos fora, abaixo e ao lado do
aparelho de Estado. Assim como, mostra-nos a relação de poder e saber nas
sociedades modernas com objetivo de produzir “verdades” cujo interesse essencial
é a dominação do homem através de praticas políticas e econômicas de uma
sociedade capitalista.
No
capítulo Verdade e Poder Foucault explica que a verdade é produto de várias
coerções causadoras de efeitos regulamentados de poder. “Parece-me que o que deve
se levar em consideração no intelectual não é, portanto, ‘o portador de valores
universais’, ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja
especificidade está ligada às funções gerais do dispositivo de verdades em
nossa sociedade” (Foucault: 13). Ou seja, ele coloca a questão do papel do
intelectual na sociedade como sendo uma espécie de produtor das “verdades”, dos
discursos vindo de uma classe burguesa a serviço do capitalismo, que persuade
uma sociedade alienada pelo domínio surgido de uma condição de vida estruturada
a qual lhes davam total respaldo para o exercício de poder.
Como
exemplo de instituições que a princípio foram construídas com o objetivo de
excluir uma parte da sociedade no século XVII, Foucault utiliza o hospital,
lugar que ao invés de ser aproveitado para a prática de cura das doenças, eram
depositados os pobres doentes, prostitutas, os loucos e todos que representavam
ameaça para a sociedade burguesa. Quem detinha o poder dessas instituições eram
os religiosos e leigos em medicina que ficavam no hospital para fazer caridade
e garantir a salvação eterna aos indivíduos lá depositados.
Até o
século XVIII, as visitas médicas hospitalares eram feitas de forma irregular,
pois, os religiosos concebiam o espaço para impor somente a ordem religiosa e
não como um espaço para a cura das enfermidades, o médico nada podia fazer para
ajudar essas pessoas, eles também estavam sob a dependência do pessoal
religioso, e podiam ser despedidos caso descumprissem a ordem.
Nas
análises sobre as questões relacionadas à psiquiatria Foucault relata como as
instituições a princípio foram locais reservados para a diminuição do poder dos
indivíduos capazes de enxergar o que acontecia com relação a dominação da
prática da psiquiatria e de outras instituições e mecanismos do saber, onde
pessoas eram praticamente abandonadas em um determinado local à arbitrariedade
dos médicos e enfermeiros, os quais podiam fazer delas o que bem entendesse,
sem que houvesse a possibilidade de apelo. Neste capítulo o leitor que teve o
prazer de ler O Alienista de Machado de Assis, pode comparar as varias
semelhanças de uma obra fictícia de uma obra com análises da realidade como
Microfísica do Poder. Em O Alienista, Machado de Assis traz como tema a
“loucura”, enfocada de uma forma que acaba por dissuadir todas as consciências
consideradas normais e por questionar a própria condição humana. Machado
procura apontar como as pessoas consideradas “anormais” por uma parte da
sociedade, eram colocadas em um asilo para loucos onde os personagens se
tornavam objetos de experiência científica.
“A
característica dessas instituições é uma separação decidida entre aqueles que
têm o poder e aqueles que não o têm” (Foucault: 124). A importância de uma
transformação na reorganização arquitetônica dessas instituições hospitalares
no século XVIII, de acordo com Foucault, só houve devido às questões políticas
e econômicas que circundavam a sociedade francesa e européia. Essa
reorganização se situou em torno das relações de poder, ou seja, os médicos
passaram a exercer o poder dentro da instituição e fora dela. Como produtor da
verdade, passavam a persuadir as pessoas no intuito de controlá-las e
neutralizá-las para exercer poder sobre a sociedade.
Da mesma
forma que as instituições hospitalares, a prisão deveria ser construída para
servir de instrumento de transformação do indivíduo, mas não foi o que
aconteceu. Foucault explica que a prisão passou ser um local de fabricação de
mais criminosos, utilizada como estratégia também de domínio econômico. Para
ele esse poder que era exercido nas instituições, era um feixe de relações mais
ou menos organizadas, mais ou menos piramidalizadas, mais ou menos coordenadas.
Que arriscavam dirigir a consciência e tentavam injetar na sociedade discursos
persuasivos que indicavam quem exercia o poder e quem o acatava. Existia uma
pirâmide do sistema que se fazia construir a possibilidade de manter esta
relação de poder.
Além das
instituições, existia um local todo gradeado e aberto aos olhos de somente um
indivíduo, onde a sociedade era posta para exercer suas atividades como
trabalhar, estudar e manter suas relações pessoais em grupo, sem que as
instituições mantenedoras do poder não deixasse de saber o que estava acontecendo
com cada indivíduo, tentando convencer a sociedade de que esta prisão era
somente para resolver os problemas de vigilância e manter todos seguros.
Esta obra
de Foucault possibilita que o leitor faça uma análise do que ocorreu e continua
ocorrendo em nossa nação, cujo poder continua centralizado nas mãos de uma
pequena parte da sociedade, que se utiliza de instituições e organismos para
manipular, persuadir e neutralizar a grande massa para a manutenção de
mecanismos que impossibilite a sua ascensão social. Para ficar mais clara a
comparação sobre a sociedade que
Foucault
expõe em Microfísica do Poder e a sociedade atual, basta o leitor ler o livro
de Néstor García Canclini, Latino-americanos à procura de um lugar neste
século, que fala sobre como os EUA através da globalização, vem exercendo um
poder dominador, bloqueando o acesso ao desenvolvimento dos países
latino-americanos, aumentando ainda mais as mazelas existentes no mundo de
forma geral.
No
decorrer de cada capítulo Foucault cita alguns pensadores como Freud, Nietzsche
e Marx e algumas de suas obras como Vigiar e Punir, As Palavras e as Coisas,
Arqueologia do Saber, A Vontade de Saber, que acaba estimulando o leitor a
conhecer um pouco mais sobre o que está escrito em cada livro e sobre cada
pensamento articulado que complementa a obra.
Em suma,
é uma obra de absoluta importância para estudantes de qualquer graduação que
busca um comprometimento com a profissão e com a sociedade. Pois, ajuda a
melhorar e elucidar o conhecimento sobre as mazelas impregnadas no nosso país e
no mundo.
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